Índice brasileiro de desigualdade sobe na pandemia, enquanto indicadores de bem-estar e felicidade caem, mostra estudo
Indicadores como desigualdade, remuneração média e bem-estar baseados em renda per capita do trabalho apresentam piora inédita na pandemia de Covid-19. A afirmação é da pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), divulgada pela entidade no último mês de junho.
De acordo com o levantamento do FGV Social, a renda média per capita brasileira alcançou o maior ponto da série no trimestre de janeiro a março de 2020: R$ 1.122. Contudo, em menos de um ano, caiu 11,3% e foi para o ponto mais baixo da série histórica: R$ 995 no primeiro trimestre de 2021. Trata-se da “primeira vez abaixo de um mil reais mensais”, pontuou o estudo.
No que se refere ao chamado “Índice de Gini” — usado para medir a concentração de riquezas em determinado grupo. Varia de zero a um, sendo zero a situação de igualdade. O estudo mostrou aumento de 0,642 no primeiro trimestre de 2020 para 0,674 nos primeiros três meses de 2021. “A literatura considera este movimento um grande salto de desigualdade”, explicou a pesquisa.
O bem-estar social — fatos que combina prosperidade com igualdade –, por sua vez, caiu 19,4%, na comparação entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021.
Já a “felicidade foi-se embora”, pontuou o relatório. Nesse caso, a felicidade se trata de uma medida subjetiva de bem-estar, resultado de respostas diretas das pessoas sobre a sua vida, dada por uma nota de avaliação de satisfação com a vida em uma escala que varia de 0 a 10. Essa nota estava em queda desde 2014, mas apresentou melhora em 2019, atingindo 6,5 pontos. Todavia, em 2020, caiu para 6,1 — “menor ponto da série histórica desde 2006”, frisou o estudo.
Nesse sentido, a pesquisa do FGV Social também mostrou que, durante a pandemia, a nota de satisfação com a vida caiu entre os mais pobres — de 6,3 antes da pandemia para 5,5 durante a atual crise mundial de saúde — mas, subiu, ainda que ligeiramente, entre os mais ricos, passando de 6,8 para 6,9.
“O aumento da desigualdade no que se refere à felicidade é marcante”, pontuou o Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia — a “distância de satisfação com a vida entre extremos de renda sobe de 7,9% para 25.5%”, acrescentou.
A análise em questão destacou ainda que a felicidade média geral apresentou “queda forte no Brasil”, mas ficou “estável nos demais países do mundo”.
“O que a pesquisa mostra e acho que é importante dizer é que, embora a pandemia seja um fenômeno global que afetou a todos os países, o Brasil tem um desempenho nesses aspectos subjetivos pior. A gente talvez precise repensar como a gente está lidando com a pandemia em termos de políticas, em termos de enfrentamento, enquanto ação coletiva”, avaliou o diretor do FGV Social e coordenador do levantamento, Marcelo Neri.
Dentre os indicadores subjetivos, o levantamento do FGV Social também apresentou os índices de outras emoções cotidianas como raiva, preocupação, estresse, tristeza e divertimento. Para conferir esses e todos os outros dados do estudo, acesse a íntegra da publicação do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas.